top of page
Foto do escritorGilvandson Augusto

O dia 1 de janeiro

Atualizado: 28 de fev.




Não tinha o que cozinhar, os mercados estavam fechados então pedi uma pizza. Terminei um filme que estava vendo há 3 dias. Vi um curta e depois vídeos no Youtube.


Eu sabia que tinha coisa para fazer.


Eram coisas burocráticas relacionadas ao trabalho como psicólogo clínico, estudar, estender a roupa que coloquei pra lavar, limpar o suporte de lixo do robô aspirador, varrer a casa, arrumar o quarto, fazer algum conteúdo pro meu Instagram profissional sobre o ano novo, limpar o ventilador, trazer de volta pro quarto a Alexa que deixei na sala para filmar os gatos enquanto eu estava viajando (estou tendo que gritar para Alexa da cozinha para ligar a luz do quarto por ainda não ter feito isso), me exercitar, guardar a trena que usei há sei lá quantos dias e está em cima da mesa de cabeceira, e, nossa, muito mais coisas. Complexas e simples. Coisas que eu levaria de alguns segundos a alguns minutos para concluir. Mas, nossa, é tanta coisa. Eu me imaginava fazendo tudo aquilo e me sentia cansado.


Eu sabia que tinha coisa para fazer, mas fazia outras coisas no lugar.

Estava simplesmente deitado no sofá da sala, mexia no celular às vezes, via alguns vídeos que eu dizia para mim mesmo que era uma forma de estudo (não era, tinha review de celular no meio dos conteúdos — sim, eu tenho um lado nerdola). No final das contas, eu estava apenas procrastinando todas essas coisas que eu citei dois parágrafos atrás e sabia disso.


Eu sabia que tinha coisa para fazer, mas fazia outras coisas no lugar e isso eventualmente me deixava mal comigo mesmo.

Enquanto eu estava nesse ciclo de comportamento (perceber que eu tinha coisa para fazer — pensar “nossa, mas é tanta coisa, daqui a pouco eu vou” — ir fazer outras coisas, como ver um vídeo — perceber que eu tinha coisa para fazer), progressivamente entrava num espiral de procrastinar e me sentir um bosta por estar procrastinando. Continuei assim por alguns minutos, “afinal, é dia 1 de janeiro e a gente tem que descansar, né?”, pensava como desculpa para mim mesmo. Só que a coisa foi ficando séria. Eu estava me sentindo muito mal comigo mesmo por não estar fazendo qualquer uma dessas coisas que precisava.


Estava começando a me sentir ansioso e um até um pouco deprimido. Pensei que mesmo que não fizesse tudo, deveria ao menos fazer alguma coisa para não acumular tanto depois. Lembrei de vários momentos em que me propus a algo e não fiz e todos os momentos futuros que isso poderia acontecer novamente, e como aquilo necessariamente significava que eu era irresponsável.


Esse era um ciclo já conhecido por mim, no entanto, e uma das coisas que aprendi com a minha antiga psicóloga e fui praticando aos pouquinhos foi administrar o que eu estava pensando e falando sobre/para mim mesmo. Sabia que ser excessivamente autocrítico não era a forma mais eficiente de lidar e que isso só me mantinha com mais afinco no ciclo de procrastinação pois, além de pensar que as atividades exigiriam de mim uma quantidade de energia maior do que realmente iriam exigir, pensar coisas negativas sobre mim mesmo me deixava deprimido. Soma aí: pensar que algo vai ser difícil + estar deprimido = no que tu acha que dá?


Fui praticando a autocompaixão e aos pouquinhos fui me sentindo melhor e mais disposto.


Eu sabia que tinha coisa para fazer, estava mal comigo mesmo, percebi algo que piorava e quebrei o meu ciclo disfuncional, até que me ocorreu uma vontade antiga de fazer um blog com textos, que seria algo importante mas que não demandaria tanta energia: “vou escrever sobre, vai ser o meu ‘oi, pessoas, feliz

2024’, e vai ser isso”, pensei.


E fiz. Fiz o blog e fiz o texto. Ufa, fiz alguma coisa!

5 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comentarios


bottom of page